Allianz traça cenário pós-Covid. Mercado europeu de seguros cresce 2,2% por ano até 2030

Allianz decifra cenário global seguros

O mais recente relatório da Allianz SE decifra o cenário global dos seguros na próxima década. Na Europa, o volume de prémios pré-Covid poderá ser reposto em 2022 e crescer 2,2% por ano até 2030.

 

O documento faz a retrospetiva do desempenho do setor em 2019, perspetiva recuperação lenta no cenário incerto da coronomics e, em linha com o que já era assumido, coloca a Ásia a emergir como região dominante no futuro.

Globalmente, o setor começou 2020 “em boa forma”, após crescer 4,4% em prémios de seguro em 2019, fixando o melhor registo dos últimos quatro anos e a apoiar-se no desempenho do segmento Vida (apesar da desaceleração face a 2018), e no acréscimo de 4,3% no negócio não Vida (P&C). Pela primeira vez desde 2015, a evolução relativa do ramo Vida superou não Vida, embora por margem mínima, conduzindo a um global mundial de 3,9 biliões de euros em prémios (2,4 biliões Vida e 1,5 biliões no negocio propriedade e danos), explicam os especialistas da Allianz Research.

Depois de breve abordagem à evolução do mercado na última década, – com recursos linguísticos que remetem para o imaginário de James Bond, em particular o filme “007 Skyfall” (Sam Mendes, 2012) – o documento analisa os efeitos da emergência súbita da pandemia (covid-19), já considerada a maior catástrofe de sempre entre os eventos que a indústria de seguros alguma vez enfrentou.

Allianz Insurance Global Report 2020 foi lançado no arranque do segundo semestre (1 de julho), e equipara o efeito demolidor da pandemia na indústria de seguros à queda de um meteorito na Terra. 2020 é um “ano perdido”, confirma o mais recente estudo da gigante alemã estimando que o sopro do novo coronavíus rapa, só este ano, o equivalente a 9,2% do que foi a produção mundial de seguros em 2019.

 

Covid-19 come 360 mil milhões de euros em prémios de seguros

A pandemia do novo coronavírus (Covid19) “atingiu o mundo como um meteorito” lê-se no documento. Assumindo como certo que a paragem súbita da atividade económica global abalou a tendência na procura de seguros, a Allianz antevê que o volume de prémios vai encolher 3,8% em 2020, com o segmento Vida a sofrer mais (-4,4%) do que o negócio P&C (-2,9% face a 2019). Estimando ainda que o impacto da pandemia no setor será três vezes maior ao da crise financeira global, cerca de uma década atrás, os autores do estudo sustentam que, face à tendência de crescimento pré-Covid, a pandemia deverá rapar, só em 2020, cerca de 360 mil milhões de euros do agregado global de prémios de seguro (250 mil milhões no ramo vida e o restante em P&C).

A analogia entre a caracterização do impacto da crise sanitária global e a obra do cinema surge logo com a expressão usada para complemento de título no Allianz Insurance Report 2020 – Skyfall. Imaginar um meteorito (covid19) que desaba sobre o mundo (e a indústria dos seguros), associando a ideia à construção skyfall revela-se adiante como inspiração na saga do agente 007. Por isso, o documento aproveita o título do filme em que M. (Ma’am, protagonizado por Judi Dench) e Bond (Daniel Craig) são confrontados com a maior ameaça de sempre aos serviços de informação da Coroa britânica: um ataque terrorista à sede da agência MI6.

Sendo postulado consensual na indústria seguradora que a evolução do negócio segue a par e passo com a atividade económica, após o diagnóstico (que só pode ser preliminar), o relatório antecipa que será mais difícil recuperar do impacto devastador da pandemia do que foi reerguer-se da crise financeira global de há uma década.

Por linhas de negócio, o relatório refere que impacto covid-19 apresenta-se, em termos globais, “fortemente negativo” em particular para o ramo Vida (produtos unit linked) e nos seguros Viagem, com diagnóstico até ligeiramente positivo nas linhas Vida mais tradicionais e seguros saúde, e levemente ou apenas “negativos” nas restantes categorias de seguro (Vida e não Vida).

Regionalmente, o mercado da Europa ocidental (que em 2019 cresceu 4,3%, contra 3,8% no ano anterior), com 5,1% mais prémios no segmento Vida e 2,5% em P&C (desacelerando face aos 3,5% de incremento em 2018) fechou 2019 com mais de um bilião (1 063 000 000 000 euros) em prémios de seguro (27% do total mundial) e quase 3/4 do volume total gerado pelos 4 grandes (Reino Unido, França, Alemanha e Itália). Para o “ano perdido” de 2020, o relatório projeta quebra 4,7% em receitas de prémios na Europa, com o setor Vida a encolher perto de 5%. No entanto, espera-se que a recuperação comece em 2021 e que os níveis de negócio pré-Covid (em volume de prémios) possam ser recuperados em 2022.

O crescimento médio anual do mercado do mercado europeu rondará os 2,2% até 2030, cerca de metade face à média dos últimos cinco anos.

Ilustrando o relatório com infográficos e recursos linguísticos que transitam do espaço ficcional à realidade dos números, a Allianz reafirma não ter dúvidas de que 2020 está perdido e considera que, agora, o mais interessante é olhar em frente. Assim, o estudo procura perspetivar o futuro até 2030, identificar condicionamentos e as novas fronteiras da indústria.

 

Ásia regressa mais forte e decide quem domina o futuro

A Ásia emergirá da pandemia mais forte e a progredir mais rápido do que os restantes blocos regionais, vaticina o estudo.

Podendo crescer 8,1% por ano até 2030, a Ásia (sem o Japão) deverá alcançar uma taxa de crescimento 2x superior ao do mercado global, creem os autores do relatório. Puxada pela China (a crescer dois dígitos por ano e com Hong Kong no topo do ranking mundial em termos de taxa de densidade e penetração em seguros), a Ásia acrescentará perto de 1,3 biliões de euros ao conjunto global de prémios, o dobro do da América do Norte e quatro vezes mais do que a Europa Ocidental.

A crescente classe média asiática desempenhará cada vez mais o papel de consumidor de último recurso com uma enorme procura reprimida, refletindo fracos sistemas de segurança social e lacunas de proteção em catástrofes naturais, saúde, reforma e mortalidade”. Em consequência e sem o Japão, o peso da região no volume global de prémios de seguro aumentará de 24,2% (2019) para 35,3% (2030).

Até 2030, o conjunto de prémios de seguro na China aumentará em 777 mil milhões de euros, um volume que iguala a dimensão do Reino Unido, França, Alemanha e Itália em conjunto. “A China e a Ásia emergirão ainda mais fortes do que antes da crise atual,” aponta a Allianz.

Em consequência desta dinâmica, a quota da Europa ocidental no mercado global de seguros tenderá a diminuir (de 27% em 2019, para 21% em 2030), enquanto a Ásia reforça a sua posição, pela China (dos 12% atuais para 21% do total mundial em 2030), apoiada pelo “resto da Ásia” (sem China e Japão), cuja quota passará de 12% para 16%. O conjunto asiático (China, Japão e resto da Ásia) responderão por 41% do mercado mundial, enquanto a América do Norte deverá encolher dos atuais 34%, para 30% em 2030.

 

Tendências e pilares. Três

Depois, reafirmando o que já têm assinalado outros estudos do setor, a Allianz recorda que o eixo da indústria continuará a deslocar-se para a Ásia, antecipando-se que o poder de compra emergente das famílias da região seja o novo suporte para impulsionar a procura global seguros. Em terceiro lugar, a instituição germânica aponta a crescente importância dos fatores ESG (sigla internacional para sustentabilidade e responsabilidade nas áreas ambiental, social e de governance).

Elaborado com a contribuição de duas dezenas de economistas e especialistas da Allianz e da participada Euler Hermes, o relatório recupera títulos e ideias para, a cada passo, voltar ao arquivo do agente secreto britânico. Na generalidade dos capítulos que compõem o documento (em língua inglesa), a escolha dos títulos não falham o propósito criativo de ligar ao universo do agente 007: License to insure; Tomorrow never dies; Money? Peny?; No time to die.

Tal como no 23º filme da longa série do agente 007, o relatório (sem qualquer nota que o confirme) parece sugerir que a pandemia – enquanto catástrofe – se tornará uma assombração do passado, uma crise superada.

No cenário até 2030, os critérios de sustentabilidade emergem como o fator diferenciador liderado pelos europeus e a marcar uma nova era na atividade de subscrição: a dos “impactos”. O ESG não se reduz ao tema “verde” ou a uma questão de reputação, é transversal a toda a economia, abre oportunidades e constitui elemento crítico do ponto vista do risco e de sustentabilidade das seguradoras, adverte o relatório.