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É fácil de prevenir, mas mata “uma equipa de futebol por dia”.

Colorretal: O segundo cancro mais frequente em Portugal e o mais mortífero a seguir ao do pulmão poderia ter menos impacto com um programa verdadeiramente nacional e estruturado de rastreio. Especialistas pedem mais.

O diagnóstico está feito e é claro como água: “O cancro colorretal é o segundo mais frequente nas mulheres, a seguir ao da mama, e o segundo mais frequente nos homens, a seguir ao da próstata. Sendo que, em qualquer dos sexos, mata mais do que os cancros da mama ou da próstata. Na verdade, é também a segunda causa de morte por cancro em Portugal, logo a seguir ao cancro do pulmão.” Ou seja, resume o coordenador da Unidade de Cancro Colorretal e da Unidade de Cirurgia
Robótica da CUF, Carlos Vaz, “é um importante problema de saúde pública no país”. São mais de 3800 os óbitos registados anualmente em Portugal como resultado de tumores colorretais, e não surpreende por isso que os especialistas não se conformem. Mais do que possível, a opinião prevalecente é de que devemos fazer mais. “Atualmente não existe um programa de rastreio estruturado, por colonoscopia e de base populacional nacional”, considera Carlos Vaz. “Os programas que existem são pouco estruturados, de âmbito regional e com recurso à pesquisa de sangue oculto nas fezes, um exame pouco específico, pouco sensível e que não permite prevenção secundária”, defende. Do lado do tratamento, uma das soluções pioneiras  é a cirurgia robótica, “a realização de intervenções cirúrgicas menos invasivas, com menos dor e recuperação
muito mais rápida”.

Protelar em demasia.

Avanços que precisam de maior sustentação, parece. Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Guilherme Macedo, “se falamos há muitos anos que os casos estão a aumentar paulatinamente é porque não estamos a ser eficazes”. Na opinião do presidente da World Gastroenterology Organisation, a “colonoscopia permite antecipar tudo isto”. Por isso estranha que “num país como o nosso” não se recorra “às suas  competências” de forma mais eficaz e se protele muitas vezes. “Existe capacidade instalada para colocar no terreno e existe massa crítica capaz de responder a uma necessidade que existe”, ou o cancro colorretal não matasse “11 portugueses por dia, uma equipa de futebol”. Por isso a receita é
fácil: “Tem 45 anos e está de boa saúde? Ótimo, faça uma colonoscopia.” Para Marisa Santos, coordenadora
do Centro de Referência do Tratamento do Cancro do Reto do Centro Hospitalar Universitário do Porto, “são necessárias campanhas de sensibilização a nível do público e dos cuidados de saúde. É fundamental implementar programas de rastreio e garantir o acesso fácil a qualquer doente com sintomas de alarme a uma consulta médica e aos exames complementares”, o
que muitas vezes não acontece. Sem esquecer que, “na pandemia, os exames de rastreio diminuíram e os exames de diagnóstico foram tardios”, o que se traduz numa “redução franca da sobrevivência destes doentes”. E com direito a aviso: “Até ver, as medidas implementadas são insuficientes para colmatar as deficiências que ocorrem.”
A solução passa por uma mistura entre mudança de hábitos de vida e rastreio mais eficaz, com Joaquim Costa Pereira, coordenador do Centro de Referência do Tratamento do Cancro do Reto do Hospital de Braga, a explicar que “a mortalidade está relacionada com o estádio do cancro na data de diagnóstico”.

Para se perceber, “um cancro precoce tem uma probabilidade de sobrevivência aos cinco anos superior a 75%, e um cancro avançado, menos de 10%”. Jogar na antecipação faz a diferença.

 

Texto: Tiago Oliveira