Deco: Contratação deveria ser feita “apenas pelos mediadores de seguros”

Natália Nunes Diretora do Gabinete de Apoio Financeiro da DECO

Natália Nunes conhece de perto a surpresa de muitos consumidores que subscreveram seguros de vida associados a empréstimos e que, quando precisam deles, constatam que não lhes servem de nada. Nos seguros associados ao crédito ao consumo, que tal como no da habitação não são obrigatórios mas acabam por ser exigidos pelas instituições financeiras, a directora do Gabinete de Apoio Financeiro (GAF) da Deco diz que lhe chegam, com frequência, casos de consumidores que deixaram de pagar empréstimos e que nem sabiam que tinham contratado um ou mais seguro, pagos juntamente com os créditos. “Só quando pedimos os contratos, analisamos o que pagam ou deixaram de pagar, é que descobrimos a existência de seguros, que em muitos casos também deixaram de ser pagos, o que leva à sua extinção, ou estão desajustados face à situação do tomador do seguro, nomeadamente a laboral.”

E dá exemplos, como o de um consumidor que comprou bens de consumo com recurso a crédito e seguro, contratados em simultâneo no ponto de venda, a loja. Neste caso, o seguro pretendia acautelar a eventualidade de o cliente deixar de poder pagar o empréstimo no caso de morte, invalidez, mas também de desemprego.

Quando o cidadão pensava que lhe seria útil, percebeu que o seu seguro, e a generalidade deste tipo de coberturas, não cobre as situações de desemprego de trabalhadores com contratos a termo, que era precisamente a situação em já se encontrava quando o subscreveu.

Ou ainda de um casal de idosos que tinha um seguro associado a um crédito pessoal e que, quando, por motivos de doença, pretendeu accioná-lo, descobriu que o mesmo tinha caducado quando completaram 70 anos, apesar de o empréstimo não se encontrar totalmente pago.

Tendo em conta a falta de formação específica dos funcionários que intervêm na contratação de seguros aos balcões dos bancos e nos pontos de venda de bens de consumo, Natália Nunes defende que a contratação de seguros deveria ser feita apenas por mediadores de seguros, que têm formação adequada para esclarecer os consumidores sobre os riscos que estão a cobrir, os que estão excluídos, ou as datas de caducidade de algumas coberturas. E sugere ainda que sejam avaliadas propostas de várias seguradoras, especialmente no caso de contratos associados a empréstimos de montante elevado e prazos longos.

Referindo-se aos seguros de vida associados ao crédito ao consumo, a directora dos GAF admite que, “com a informação toda, a maioria dos seguros não seria contratada”.

No caso de empréstimos à habitação, apesar de reconhecer que é dada mais informação sobre o seguro proposto pelos bancos, a directora do GAF alerta que, “se forem mais bem esclarecidos, os consumidores podem acautelar melhor o futuro”.

A complexidade dos contratos de seguros acaba por retrair boa parte dos consumidores a procurar ofertas alternativas de seguro, acabando por aceitar como vantajosas as bonificações “oferecidas” no spread (uma das componentes da taxa de juro), que nem sempre representam uma poupança real.

In Publico